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quarta-feira, 25 de maio de 2011

lucubração
lu.cu.bra.ção
sf (lat lucubratione) 1 Ato de lucubrar. 2 Trabalho intelectual noturno; vigília. 3 Estudo laborioso e aturado. 4 Esforço literário. 5 Produto de trabalho intelectual. 6 Obra literária excessivamente douta e esmerada.
"Um poema, uma pintura, uma sinfonia, um romance ou um filme podem significar algo além de um segredo do gosto ou pura virtude humana?" (BARBOSA, 2009, p.79)

A Arte de Representar como reconhecimento do Mundo: o Espaço Geográfico, o Cinema e o Imaginário Social. 


Disponível aqui!
Foda-se
Dane-se
Meta-se
Minta-se
Morra-se
Coma-se
Deite-se
Rale-se

Divirta-se
Encare-se
Esqueça-se
Xinge-se
Sofra-se
Repita-se

Namore-se
Cometa-se
Perturbe-se
Entorpeça-se
Caminhe-se
Dance-se
Mexa-se

Pare-se
Viva-se
Grite-se
Descabele-se
Sorteie-se
Corrija-se
Beije-se
Toque-se
Veja-se

Queime-se
Arda-se
Madrugue-se
Chore-se
Reze-se
Lute-se
Resista-se
Persista-se

Invente-se
Derrube-se
Sustente-se
Beba-se

Escreva-se
Pinte-se
Frua-se
Revolte-se
Cante-se
Enfrente-se
Sirva-se
E seja feliz.

Sirva-se e seja feliz

quinta-feira, 19 de maio de 2011

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Hoje chorei a morte de Baleia.








































































































Ita, 2009-2011
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés.  Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.



João Cabral de Melo Neto, Falas do personagem Joaquim extraídas da poesia "Os Três Mal-Amados", 1994

terça-feira, 17 de maio de 2011
























































Cao Guimarães, Paquerinhas (2002-2007) 


















René Magritte, Os amantes (1928)
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Poema em linha reta, Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

domingo, 15 de maio de 2011

misantropo
mi.san.tro.po
(ô) adj (gr misánthropos) 1 O mesmo que misantrópico. 2 Atacado de misantropia. sm 1 Indivíduo que tem aversão aos homens, que evita a sociedade. 2 pop Indivíduo melancólico. Antôn: filantropo.
Camille Claudel, Vertumne et Pomone, mármore (1905)

Antonio Canova, Cupido e Psyche, detalhe (1786-93)


I
Confira
tudo que
respira
conspira

II

Tudo é vago e muito vário
meu destino não tem siso,
o que eu quero não tem preço
ter um preço é necessário,
e nada disso é preciso

III
Cinco bares,
dez conhaques
atravesso são paulo
dormindo dentro de um táxi

IV
isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

V

O pauloleminski
é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau a pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filhodaputa
de fazer chover
em nosso piquenique

Poesias, Paulo Leminski

sexta-feira, 13 de maio de 2011






Canopée, 2009
Un mince vernis de réalité, 2000-2004
Parcelles, 2004-2008







"Life is what happens to you
While you're busy making other plans."
                                                                                    John Lennon








Beautiful dog, 2011

terça-feira, 10 de maio de 2011


Jacques Brel, Ne me quitte pas (1959)
Olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas

Ana Cristina Cesar, Olho muito tempo o corpo de um poema



Eu não tinha este rosto de hoje, 
assim calmo, assim triste, assim magro, 
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força, 
tão paradas e frias e mortas; 
eu não tinha este coração que nem se mostra. 
Eu não dei por esta mudança, 
tão simples, tão certa, tão fácil: 
Em que espelho ficou perdida a minha face?

Cecília Meireles, Retratos 

segunda-feira, 9 de maio de 2011

cerzir 
cer.zir
(lat sarcire) vtd 1 Coser, remendar (um tecido), de modo que não se note o conserto. 2 Unir, juntar. 3 Entressachar, intercalar. Verbo irregular - Indic: Pres: cirzo, cirzes, cirze, cerzimos, cerzis, cirzem. Subj: Pres: cirza, cirzas, cirza, cirzamos, cirzais, cirzam. Imper: cirze.


pueril
pu.e.ril
adj m+f (lat puerile) 1 Da puerícia. 2 Pertencente ou relativo às crianças; infantil. 3 Próprio de crianças ou meninos. 4Relativo à idade das crianças. 5 Frívolo, fútil, ingênuo, sem importância.