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domingo, 21 de dezembro de 2014

ia fumar um cigarro e o isqueiro não acendeu então deitei no chão. meditei.

terça-feira, 22 de julho de 2014

quase um ano se passou desde que vim morar aqui e confesso que ainda me assusto com esses temporais amazônicos. geralmente, a tormenta dura pouco, vem lá do rio, o céu fica cinza escuro,  e a floresta vai desaparecendo aos poucos numa cortina branca de água. o vento vai ficando cada vez mais forte e os vidros da janela sopram como se um fantasma pedisse socorro do lado de fora. aí a chuva vem. os pingos são grossos, tenho a impressão que um só daria pra regar um vasinho, e parecem mais uma "magueirada" que uma gota'água. batem forte na janela.tudo dura mais ou menos dez minutos e (acredite se quiser) é tempo suficiente pra eu sentir todos os meus músculos bambos. passou a tormenta. o sol já começa a raiar lá fora. sobe o mormaço. que calor! estou na amazônia.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

quando eu era pequena, tinha um questionamento recorrente: por que eu era eu e não outra pessoa?
Quando a gente nasce, a gente já é alguém. mas quando a gente vai crescendo, a gente vira um tipo assim, meio a gente, meio os outros. depois a gente fica mais os outros do que a gente mesmo. pra depois fazer a curva, e criar um outro eu. esse outro eu, é diferente do que eu era quando nasci, que é diferente do que eu era quando fui crescendo, que também é diferente do que eu fui me transformando. esse eu, não sou eu, de fato. talvez ele seja uma projeção de tudo que eu experimentei, um espelho. ele é tudo o que eu sempre quis ser e o que eu aceitei em mim. tem gente que pode ser o contrário também: ser o que ela sempre negou. eu sou isso também. acho que já fui todo tipo de gente. perguntei muitas vezes se isso poderia ser verdade. eu sou fruto de muitas ficções.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

comecei a fotografar em altamira e estava apavorada de fotografar pessoas. mas o david duchemin, disse que fotografar pessoas era o seu paraíso e o seu inferno. pois é. quando eu pensei, pela primeira vez na minha vida que eu poderia ser uma fotógrafa, foi a imagem da menina afegã, do steve mccurry,que apareceu que me veio à cabeça. e eu sabia que isso queria dizer alguma coisa: eu queria fotografar gente. é difícil porque por mais cara de pau que eu seja. ainda não é o bastante.

dia desses saí pela cidade pra fotografar. sou medrosa e dou pra trás em situações difíceis. comecei fazendo o mais fácil e parei em frente a várias paredes deterioradas. cliquei muitas.

a surpresa aconteceu quando, na janela aberta de uma casa que eu estava fotografando, surgiu um menino, um jovenzinho. Minha primeira reação foi desviar a câmera, mas algo me falou para ter colhões naquela hora, e num milésimo de segundo voltei a câmera pra janela, tirei a câmera do olho, sorri, fiz um sinal positivo para o menino e ele respondeu sorrindo também.

ele ficou ali posando pra mim por alguns minutos. fiquei tão excitada com a situação que me esqueci que estava fazendo fotos no modo manual é seria bacana experimentar outras configurações, testar outros enquadramentos, me aproximar, me afastar, enfim. eu tinha tempo.mas  não quis demorar muito. estava um pouco sem jeito. muito sem jeito, na verdade. pela primeira estava diante de um estranho, fazendo fotos. agradeci sorrindo e fui embora. só saiu porcaria, mas o rostindo do menino ficou gravado na memória. na minha.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

ainda bem que o destino me levou pra publicidade. minha vocação pro jornalismo é zero. sou uma mulher de ficções. e jornalista ficcional é over.

a doença do jornalismo. é essa obsessão pelo trágico, pelo sangue. a inversão da ordem de importância das coisas, como se as más notícias fossem sempre as mais relevantes. e as boas, pudessem ocupar os menores espaços porque são supérfluas. coisa boa não vende. isso é triste.

 nada contra quem faz jornalismo sério, de verdade. se é que ele existe. mas pense só numa pessoa como eu, nessa onda de preferir ficar com as realidades possíveis, aquelas que são inventadas para o bem. não ia ter espaço. é melhor uma notícias boa de mentirinha do que uma notícia ruim de verdade. porque notícia ruim contamina a gente.

a notícia boa é o menino que pula no rio do alto do barco. é o pescador que volta da pesca e serve a comida para alimentar a família. é o marido que começou a ajudar a esposa com as tarefas domésticas e cuidar dos filhos porque a realidade mudou. se os jornais se dedicassem mais a essas micro realidades o mundo seria muito melhor. todo mundo poderia ver outras realidades possíveis.

terça-feira, 1 de julho de 2014

01/07 - 
primeiro de julho. começo a me despedir de altamira e do pará. sentirei saudades desse clima, desse rio, dessas cores, dessa gente... tenho profunda gratidão por ter tido a oportunidade de viver aqui. de estar aqui nesse tempo e experimentar tudo isso. foi um grande privilégio. a melhor maneira que encontro pra me despedir é fotografando essa cidade.















as canoas na no xingu. ah, eu nunca vou me esquecer delas. coisa viva e coisa morta. 

segunda-feira, 30 de junho de 2014

No telefone, contei pra uma prima muito querida que eu estava voltando pra minas, e ela, toda empolgada com a notícia, disse: "a gente volta porque o coração da gente fica onde a gente nasce."

sexta-feira, 27 de junho de 2014

As pessoas, incluindo eu mesma, dão muita importância às aspas. Então passei a dizer muitas coisas minhas entre aspas pela internet. E percebi que nunca havia dito coisas tão contundentes. hahahahaha!
Preciso explicar a alguém o que acontece comigo. Há uma parede de duas cores. A parede é de um estabelecimento comercial, uma lojinha de esquina que está sempre fechada. Enquanto eu não fotografá-la de todas as maneiras possíveis eu não me sentirei completa.
 Imagina seu a gente leva isso a sério: “É importante guardar sua paixão e sua eloquência para as pessoas e ocasiões que realmente valem a pena, no presente”. 

sexta-feira, 20 de junho de 2014

 "O homem lúcido é aquele que se livra daquelas "idéias" fantásticas [a mentira caracterológica sobra a realidade] e encara a vida sem temor, percebe que tudo nela é problemático, e se sente perdido. E esta é a verdade elementar - a de que viver é sentir-se perdido - que aquele que a aceita já começou a encontrar a si mesmo, a pisar em terra firme. Por instinto, como fazem os náufragos, olhará em torno, à procura de algo em que possa se agarrar, e esse olhar trágico, implacável, absolutamente sincero, porque se trata da sua salvação, irá fazer com que ele ponha ordem no caos de sua vida. São estas as únicas idéias autênticas; as idéias dos náufragos. Tudo o mais é retórica, pose, farsa. Aquele que realmente não se sentir perdido não tem perdão; quer dizer, nunca se encontrará, nunca enfrentará a sua realidade." josé ortega y gasset

esse é o lúcido. ou o louco. 

quarta-feira, 18 de junho de 2014

penso numa casa com grandes janelas por onde passam
os feixes de luz natural e as folhas secas que caem das árvores
em dias de outono

penso nessa casa onde as janelas são coloridas em cada cômodo uma cor ou várias
as cores me agradam, agradam a própria casa e a todos os visitantes
que se alegram ao vê-la.




sábado, 14 de junho de 2014

Vidas possíveis:

http://www.behance.net/gallery/Rainbow-Gathering-(2010-2011)/1193675

domingo, 4 de maio de 2014

eu gosto de reler os poemas da ana cristina césar. ela me salvou da vergonha que sentia por também ser marginal e ordinária no mundo. vez ou outra, em muitos momentos da minha vida, me vem à cabeça um verso dela. e aí preciso lê-la de novo. e de novo. só pra experimentar mais uma vez aquelas sensações do tempo que a li pela primeira vez. nem sempre dá. mas quando isso acontece, sou uma pessoa livre e melhor. ana c me deixou dois legado: a estética e a liberdade.


Nada disfarça o apuro do amor.
Um carro em ré. Memória da água em movimento. Beijo.
Gosto particular da tua boca. Último trem subindo ao
céu.
Aguço o ouvido.
Os aparelhos que só fazem som ocupam o lugar
clandestino da felicidade.
Preciso me atar ao velame com as próprias mãos.
Sirgar.
Daqui ao fundo do horto florestal ouço coisas que
nunca ouvi, pássaros que gemem.


CIÚMES

Tenho ciúmes deste cigarro que você fuma
Tão distraidamente.



O Homem Público N. 1

Tarde aprendi
bom mesmo 
é dar a alma como lavada.
Não há razão 
para conservar
este fiapo de noite velha.
Que significa isso?
Há uma fita 
que vai sendo cortada
deixando uma sombra 
no papel.
Discursos detonam.
Não sou eu que estou ali
de roupa escura
sorrindo ou fingindo
ouvir.
No entanto
também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais
quem são,
de uma doçura
venenosa
de tão funda.
chuva bate no vidro
lava a janela.

vento bate no peito
e leva a dor da gente.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

“Se você quer ser um fotógrafo, você tem que fotografar. Se você olhar para os fotógrafos cujo trabalho admiro, eles encontraram um lugar particular ou um assunto, cavou fundo nele, e criou algo que se tornou especial. E isso leva muito tempo e muito trabalho – que não é para todos. Independentemente de como você é bem sucedido, é importante para você gastar o seu tempo fotografando coisas que são importantes para você. Você precisa entender as coisas que tenham significado para você, e não o que os outros pensam que é importante para você. Ter um blog é uma das maneiras mais fáceis para começar seu trabalho e mostrar para um grande público “. Steve McCurry. 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

As coisas por aqui são imprevisíveis. Nunca se sabe quando vai chover. ou quando um caminhão carregado de madeira vai passar na frente na sua casa durante a madrugada.
Steve McCurry: o melhor retratista de todos os tempos

Hoje vi novamente a fotografia do melhor retratista de todos os tempos. Aliás, melhor dizendo, vi ( na minha humilde opinião) o melhor retrato de uma pessoa de todos os tempos. O magnânimo.

Estava sem sono e com uma puta torcicolo quando me levantei da cama pensando em resolver uma questão que pairava há dias sobre minha cabeça. Estou em vias de me tornar uma fotógrafa profissional, quase lá, sabe, e ainda não sei qual é a minha maior referência. Bem, refiz essa pergunta porque a considero fundamental para fazer qualquer trabalho. Qual era a minha maior referência em retratos artísticos de pessoas? Se eu pudesse pensar em um único nome, cuja obra eu pudesse considerar a minha grande referência para fazer o que escolhi fazer na vida, qual seria? Felizmente, não demorei muito a descobrir. Fiz uma busca ridícula no Google, dessas em que a gente digita "as fotografias mais famosas do mundo", e lá estava ela, a Menina Afegã de Steve McCurry.


































Preciso contar uma coisa para você:  essa é a imagem mais bonita no mundo. Se fosse um cartaz de cinema, ela seria O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Repare, não só pelo verde ao fundo, mas pela composição em si, enquadramento, ângulo, cor, luz. A propósito, não duvido que o designer desse cartaz tenha se inspirado na fotografia de McCurry também. Sem dúvida, ela deve ser fonte de inspiração para muitas artes...

Voltando à menina afegã, lembro exatamente do momento em que a vi pela primeira vez, e não conseguia tirar os olhos dos seus olhos. Eu era também um criança. Foi, de longe, o retrato que mais me marcou, e cuja imagem permaneceu em minha memória ao longo dos anos, me acompanhado até os dias de hoje. Pelo visto, não consigo me desvincular dela, dessa garotinha misteriosa, de olhos arregalados e absurdamente verdes! Ela estava na revista que eu folheava, não na National Geographic, onde foi originalmente publicada, mas numa revista qualquer. Ela rodou o mundo, ora. E agora, acabo de perceber que ao longo de todos esses anos, nunca quis saber mais nada sobre ela. Nunca me interessei por entender o seu contexto, a imagem já me dizia tudo.

Aos olhos de uma criança, algumas coisas simplesmente não são tão importantes. Por exemplo, se a menina era ou não afegã, se ela havia ou não posado para aquela foto, se ela estava em fuga, ou se só estava só, sem ninguém no mundo. As crianças não se atêm a essas informações que julgamos ser importantes quando somos adultos, e isso me parece muito curioso. No meu caso, não me ative a nenhuma informação específica e nem queria saber.Fui atraída pela menina, pelo modo como ela olhava para mim e isso me mantinha conectada a ela. Hoje sei exatamente o que me atrai nela, mas não ouso dizer porque essa imagem é tão potente (!!!!) que qualquer tentativa de analisá-la mais a -fundo seria, no mínimo, ridículo. Me sinto ridícula por tentar elucidá-la! É um despropósito muito grande porque qualquer um deveria saber, assim como as crianças que certas imagem são inefáveis e por isso são imagens, e não textos.

Bem, agora você sabe o que penso sobre essa imagem. Penso que falar sobre ela é uma redundância. É isso que penso. Tudo que eu disser sobre ela é uma grande mentira porque não acredito que ela exista para esse fim. Só posso dizer verdadeiramente algo sobre ela considerando o que ela me me provoca. É muita louco mesmo pensar sobre isso mas essa imagem, para mim, só pode ser comentada sobre como ela me toca. Não há outra maneira. Provavelmente você poderá buscar sua história no Google, tão facilmente como eu a encontrei novamente na rede. Mas isso não vai ser tão importante quanto saber o modo como ela toca você. E como ninguém irá lhe dizer isso, você terá que descobrir por você mesmo. Interpretá-la ao seu modo. Sugiro que faça como as crianças, que pouco sabem sobre as coisas e também não estão interessadas em saber. Assim, acredito ser muito mais interessante.

Como ela me toca? Fico impressionada com o fato de eu nunca me acostumar a essa imagem. Ela sempre irá mexer comigo de alguma forma. Basta observá-la por um milésimo de segundo e desviar o olhar num átimo. E, em seguida, mirar novamente a cena para pensar imediatamente: Ela vai fugir. Vai correr agora, sumir daqui. Pronto, não deve estar mais lá. Nunca mais a verei de novo. Partindo disso, fica fácil imaginar o desenrolar da história. Eu digo: Ei, calma, não vá! E espero que ela não vá, para que eu possa fotografá-la. Bem, eu jamais faria essa foto, anyway, mas se a fizesse, penso que, no momento decisivo deste encontro fortuito, em que me posiciono esperando que a ação aconteça diante dos meus olhos, surge a menina. Ela sai de algum escombro, de uma ruína qualquer, e permanece parada durante dois segundos na minha frente. Eu então, a observo com a minha "câmera super intimidadora" em punho. E ela, protegida somente por sua frágil burca - já rasgada, provavelmente, pela fuga - me vê. O que eu vejo? Um perfeito enquadramento. Estou no melhor lugar, na melhor hora. Me alegra o fato de estar aqui, enquanto uma feliz cena fotográfica se configura no instante em que veja a garota. Busco os olhos dela, e vejo que são verdes, de uma cor intensa que nunca vi antes em toda a vida. Verde também é a parede ao fundo da cena. Desvio um pouco o olhar para os detalhes e percebo que abaixo da burca, rasgada pela fuga, sobressai o verde de sua vestimenta. Verde, verde, verde, vermelho, marrom. Clico.

Em outra circunstância, imagino o outro lado. Me coloco no lugar da menina, a fugir de alguém ou somente desamparada. E encontro um homem que poderia me ajudar, mas ele está parado e levanta algo em minha direção, um objeto estranho, que se assemelha a uma arma. E dispara. E então, meus olhos saltam de medo, e eu corro. Eu simplesmente fujo desse momento. Não participo do mágico processo visto e pensado, e concretizado para o fotógrafo. Nessa perspectiva, quase nada se modificou.

É simples assim. As boas fotografias nos contam histórias incríveis. Estão abertas a inúmeras possibilidades. São atemporais e, mesmo que tenham uma história oficial a nos contar, prefiro dispensá-la e perceber que o melhor está no que a própria imagem pode me contar. ela por ela mesma. Se for diferente disso, é redundante. E ela não será forte o bastante.

Essa fotografia é muito importante na minha vida. Sua plasticidade e simbolismo são incríveis e incomparáveis. Como é muito famosa, imagino que muitos textos já tenham sido escritos sobre ela, mas novamente, reforço que o que ela tem de melhor é o fato de nos possibilitar imaginar o que não está dito, o que não sabemos. E se formos ir além, podemos dizer que essa fotografia também denota uma falha da imagem: ela é incapaz de dar conta do todo. não consegue traduzir o instante tal como ele foi. Ela é intransparente, nesse sentido. Como se se a menina afegã me dissesse: pode ver isso, mas é muito mais. Você não sabe, nem imagina. E esse é outro mérito das boas fotografias: elas conseguem também não nos contar todas as coisas. Elas nos deixam assim, tentando adivinhar o impossível. Por isso, essa é, na minha opinião a melhor fotografia do mundo. Um salve a Steve McCurrry, que não precisava ter feito nenhuma outra imagem depois desta. Serei eternamente grata a ele.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014