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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Eu poderia estar roubando, matando, fazendo compras no shopping...


 
        Eu não voto em partido de direita. Sou contra o PSDB. Contra Aécio, Serra, Anastasia, Lacerda e políticos profissionais elitistas de toda ordem. Sou contra a copa do mundo da FIFA, contra a duplicação das avenidas, contra a verticalização das cidades, contra os projetos de urbanismo que defendem o privado em detrimento do público. Sou contra também qualquer tipo de ditadura, seja de esquerda ou direita, tudo que tira do povo o poder e a autonomia de escolher seus representantes é devastador para uma nação. Aliás, acho que ninguém me representa. Democracia representativa já tá meio por fora, o que dizer do que não é democrático?
         Eu sou contra o carreirismo dos profissionais, de todas as áreas do conhecimento. Quanta bobagem essa coisa de ter que subir uma escadinha do sucesso, trilhar os caminhos convencionais, seguir a fórmula mágica do progresso. Mais que isso, sou contra a prática de networking, tão cultuada nas empresas e no marketing de relacionamento, de maneira geral. Acho isso um critério super amador.
         Sou contra o voto obrigatório, contra grande parte da propaganda veiculada hoje e o jornalismo partidário, sensacionalista, publicidade travestida de jornalismo. No âmbito filosófico, eu sou contra o utilitarismo do nosso tempo e o discurso hipócrita de que todos temos de ser felizes. Quem foi o gênio que idealizou esse plano infalível do Cebolinha? Lamento não ser tão otimista.
            Ao mesmo tempo, também não fujo do hall dos hipócritas de plantão. Eu não fumo na frente dos meus pais pra incentivá-los a parar de fumar. Eu como carne todos os dias, embora seja contra as formas de abate. Sou fraca.
         Mas decidi que não vou mais comprar cachorro, agora só aceito doações! Doações de roupas e calçados também são bem-vindas, já que sou recém-formada, trabalho muitas horas por dia e recebo bem menos do que mereço. Também nunca pude comprar indumentária "dimarca" mesmo...
         Eu não ligo pra dinheiro, de verdade. Como é bom dizer isso! Mas gostaria muito de ter vida sustentável. E ser sustentável é o que é mesmo? Hã?
           Nada contra os jovens que sentem a necessidade de adquirir logo sua casa própria, que acreditam carecer disso para ter estabilidade e segurança. Mas se as pessoas desejassem essas coisas, talvez devessem investir mais em outro recinto, que lhes garanta, (esse sim), o seu lugarzinho, não exatamente ao Sol, mas a estabilidade e a segurança que tanto dizem necessitar. Brincadeiras de mal gosto à parte, nós não gostamos de perder boas oportunidades,e por isso, queremos bem mais do que garantir nosso lugar ao céu, digo ao Sol. Bem, tanto faz o termo, o importante é estar no topo, certo?
         Voltando aos prós e contras, eu sou contra a especulação imobiliária e quem gosta de fazer patrimônio pra enriquecer e crescer em cima dos outros. Sou contra o self-made man, carros, grifes, jóias e iates. Nada disso é tão importante quanto uma boa dose de virtude. Ah, e não pretendo vender minha alma pro diabo pra conseguir e manter um cargo em qualquer lugar, nem no Google, no Greenpeace, qualquer lugar Eu sequer visto camisa de empresa! Cruzes!
         Também não vou viver todos os meus anos só pra receber aposentadoria no fim da vida. Eu não quero apenas existir. Comer, foder e dormir pode ser secundário. Eu preciso dar minha contribuição para esse mundão. Só aumentar a população não resolve. De que maneira você contribui? Eu acredito em algumas coisas.
         Sou a favor do aborto, da união homoafetiva, da poligamia, da descriminalização da maconha, da tolerância aos fumantes e da condenação às indústrias emissoras de poluentes na atmosfera. Elas são prejudiciais à saúde.
         Eu sou a favor da liberdade, da mídia livre, dos hackers, da pirataria, das manifestações sociais, das ocupações dos espaços públicos. E num contexto local, da greve dos professores, dos movimentos estudantis, do boicote a todos os vereadores da CMBH. Yes!
         Não sou profunda conhecedora de política e economia, mas sou publicitária e como profissional de uma das áreas de formação mais estigmatizadas, acho que o neoliberalismo foi uma das piores desgraças que nos aconteceu. Não vejo nenhuma contradição em ser contra o  capitalismo, tendo a profissão que tenho.
         Sou contra a moral, a família e os bons costumes, nos moldes tradicionais e moralistas que conhecemos. Isso prejudica a nossa vida. Contra também o cavalheirismo dos homens; a pena de morte e contra o dia do orgulho hetero. Onde já se viu grupos majoritários que já conquistaram seus direitos, reivindicarem reconhecimento e igualdade? É uma das faces mais preconceituosas do machismo porque talvez ainda não tenha descoberto que é, de fato, preconceituosa. Sou contra o assédio moral no trabalho. Já fui assediada moralmente, não sexualmente, mas é como se fosse. Sou contra o fundamentalismo religioso também, aliás, fundamentalismo de todos os tipos; contra os regionalismos e a crença de que o povo brasileiro é pacífico. Carocha. Alguém disse que quem não vê o povo brasileiro articulado e mobilizado não está nas ruas e não está mesmo. E se você tem medo de ir pra ruas nem deveria sair de casa pra ir trabalhar, vai que um carro te atropela ou é contaminado por um vírus de tipo raro?
         Eu sou contra as práticas truculentas da  polícia, contra a construção de Belo Monte, a favor dos índios high-tech e das cotas nas universidades. Aprendi com meu noivo que não se pode tratar desigualdade com igualdade. Se temos uma dívida, precisamos pagar. Sou a favor das minorias desfavorecidas e oprimidas, das prostitutas, dos moradores de rua, dos bêbados e drogados que ainda não encontraram Jesus. E acho que os governos deveriam garantir moradia digna e assistência para todos os cidadãos do mundo. Quem determinou que só quem paga tudo direitinho deve ser beneficiado? Por essa e tantas outras razões eu entendo os atos de “vandalismo”.
         E se você, assim como eu, também vê esse texto como um samba do criolo doido, eu fico feliz. Estamos no caminho certo. Sei que não existe verdade absoluta e as nossas opiniões estão sujeitas a mudanças, e tomara que estejam. Mas o mais importante de se chegar a uma opinião é ponderar, questionar, subverter a ordem e a lei, como disse Tom Zé, mesmo que seja a lei do pensamento, da racionalidade, enfim.
            Às vezes a lei é burra e não beneficia a todos. E eu sou por todos. Por quem você é?
         A gente deveria ir construindo nossas opiniões de maneira casa vez mais crítica. Não precisamos de conforto, de paliativos, de ar condicionado e caminhões de lixo com perfume. Precisamos entender nossa realidade. E um bom começo e duvidar de tudo. Por exemplo, duvide de tudo que você lê, inclusive deste texto. Eu não tenho credibilidade, respaldo, e nem se tivesse estaria isenta de considerações. Pesquise. Quem sabe assim a gente vai aprendendo? Quem sabe assim a gente acaba com essa bobagem de ficar só reproduzindo o discurso dos outros? A grande maioria deles não tem reflexão alguma sobre absolutamente nada. Quanto desperdício de energia!
        Eu poderia também estar repetindo discurso. Na verdade, acho que estou, mas tenho consciência que os escolhi, que os filtrei. E se um dia descobri o contrário, mudo de opinião. Repenso, mas nem por isso voltarei para o ponto de onde parti. E ninguém volta.
        Eu poderia estar roubando, matando... fazendo compras no shopping, mas estou aqui, escrevendo esse texto pra dizer que é muito importante a gente se preocupar com outras coisas além da nossa própria vida, das nossas próprias coisas, das nossas contas pra pagar no fim do mês. Que pensemos mais no coletivo, no que é de todos, na nossa responsabilidade com o presente e com o futuro. Afinal, se não pensarmos nisso quem vai pagar essa conta?

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012


Foto da instalação "Rastros. A paisagem invade", de Clarissa Campolina.
Espaço 104 - Centro de Belo Horizonte, MG. (Dez/2010)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

45 abdominais feitos
0 cigarros fumados
novas músicas ouvidas
algumas cenas bonitas pela rua
muito trabalho
1,5 litro de água bebido
e amanhã tem mais.



boa noite para os que vão
bons sonhos para os que ficam

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Fitar o rio feito de tempo e água
e recordar que o tempo é outro rio,
saber que nos perdemos como o rio
E que os rostos passam como a água.

Sentir que a vigília é outro sonho
que sonha não sonhar e que a morte
que teme nossa carne é essa morte
de cada noite, que se chama sonho.

No dia ou no ano perceber um símbolo
dos dias de um homem e ainda de seus anos,
transformar o ultraje desses anos
em música, em rumor e em símbolo,

na morte ver o sonho, ver no ocaso
um triste ouro, tal é a poesia,
que é imortal e pobre. A poesia 
retorna como a aurora e o ocaso.

Às vezes pelas tardes certo rosto
contempla-nos do fundo de um espelho;
a arte deve ser como esse espelho
que nos revela nosso próprio rosto.

Contam que Ulisses, farto de prodígios,
chorou de amor ao divisar sua Ítaca
verde e humilde. A arte é essa Ítaca
de verde eternidade, sem prodígios.

Também é como o rio interminável
que passa e fica e é cristal de um mesmo
Heráclito inconstante, que é o mesmo
e é outro, como o rio interminável.


BORGES, Jorge Luis. O fazedor. Tradução de Josely Vianna Baptista. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

carnaval de rua em belo horizonte: muita alegria, muita fantasia, muita gente bonita e rica.

tudo em paz, conforme o previsto. a região centro-sul domina, infelizmente. o povo da cidade que costuma viajar pro interior ou pra praia deixou bh livre para os foliões que, por opção, aqui ficaram. na periferia,  a notícia não chega, e por lá, quem não viajou não veio. um carnaval bonito de ver, mas que é ainda pura contradição.

Um carnaval de rua (na rua) restrito a poucos. organizado por poucos. e não se sabe ao certo se essa organização se dá pelo jeito mineiro provinciano de ser, ou se por falta mais engajamento mesmo. Vi muita gente, fato. Gente bebendo licor, champanhe em taça, vinho chique no gargalo. Vi fantasias de mocinhas  que mais pareciam desfile de moda às avessas, elaboradas, coloridas e novinhas, cheirando a loja da savassi.

Era muita gente, gente de vários lugares, claro. Mas a grande maioria era sim a velha burguesada da cidade, a tradicional família mineira, que pôde relembrar os bons tempos, quando saíam às ruas mascarados, entoando as também tradicionais marchinhas de carnaval.

E o que agora embala a nova geração da tradicional família, (já nem tão tradicional assim...), é a possibilidade de reviver um pouco do que se perdeu em meio a tanto axé e desfile de escola de samba rio-sao paulo. A nova geração renega a si mesma no resgate do velho, enquanto chuta a família mineira e se diz "de vanguarda".

Mas os muitos são os mesmos poucos que movimentam a cidade, uma panela de amigos que tem botado pra quebrar em bh. Acho ótimo, mas é um pouco triste isso.Parece que o restante é inexistente, tem vontade de fazer, mas não encontra espaço na cena underground.

Então seguimos assim, com pouca polícia, poucos favelados, nenhuma briga ou repressão. Não há nada de errado nisso, só me parece um pouco estranho que a festa mais popular do país não conte om a presença do povo, os baderneiros, incivilizados, bêbados e decadentes. Não, não vimos nada disso entre carandaí e brasil. 

Mas a folia na rua segue pedindo passagem e acho mesmo que nos próximos anos a festa seja ainda mais inclusiva. espero que o povo do morro desça pra vir foliar com a gente. E quanto isso acontecer vai ter quem não agrade.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012







































hoje a poesia foi de ônibus. ia para o trabalho, para a aula... de manhã cedinho e com muito sono. bela moça!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

vontade de dar um beijo lésbico.
mas só tem graça se for em público.
em breve.