Páginas

terça-feira, 22 de julho de 2014

quase um ano se passou desde que vim morar aqui e confesso que ainda me assusto com esses temporais amazônicos. geralmente, a tormenta dura pouco, vem lá do rio, o céu fica cinza escuro,  e a floresta vai desaparecendo aos poucos numa cortina branca de água. o vento vai ficando cada vez mais forte e os vidros da janela sopram como se um fantasma pedisse socorro do lado de fora. aí a chuva vem. os pingos são grossos, tenho a impressão que um só daria pra regar um vasinho, e parecem mais uma "magueirada" que uma gota'água. batem forte na janela.tudo dura mais ou menos dez minutos e (acredite se quiser) é tempo suficiente pra eu sentir todos os meus músculos bambos. passou a tormenta. o sol já começa a raiar lá fora. sobe o mormaço. que calor! estou na amazônia.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

quando eu era pequena, tinha um questionamento recorrente: por que eu era eu e não outra pessoa?
Quando a gente nasce, a gente já é alguém. mas quando a gente vai crescendo, a gente vira um tipo assim, meio a gente, meio os outros. depois a gente fica mais os outros do que a gente mesmo. pra depois fazer a curva, e criar um outro eu. esse outro eu, é diferente do que eu era quando nasci, que é diferente do que eu era quando fui crescendo, que também é diferente do que eu fui me transformando. esse eu, não sou eu, de fato. talvez ele seja uma projeção de tudo que eu experimentei, um espelho. ele é tudo o que eu sempre quis ser e o que eu aceitei em mim. tem gente que pode ser o contrário também: ser o que ela sempre negou. eu sou isso também. acho que já fui todo tipo de gente. perguntei muitas vezes se isso poderia ser verdade. eu sou fruto de muitas ficções.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

comecei a fotografar em altamira e estava apavorada de fotografar pessoas. mas o david duchemin, disse que fotografar pessoas era o seu paraíso e o seu inferno. pois é. quando eu pensei, pela primeira vez na minha vida que eu poderia ser uma fotógrafa, foi a imagem da menina afegã, do steve mccurry,que apareceu que me veio à cabeça. e eu sabia que isso queria dizer alguma coisa: eu queria fotografar gente. é difícil porque por mais cara de pau que eu seja. ainda não é o bastante.

dia desses saí pela cidade pra fotografar. sou medrosa e dou pra trás em situações difíceis. comecei fazendo o mais fácil e parei em frente a várias paredes deterioradas. cliquei muitas.

a surpresa aconteceu quando, na janela aberta de uma casa que eu estava fotografando, surgiu um menino, um jovenzinho. Minha primeira reação foi desviar a câmera, mas algo me falou para ter colhões naquela hora, e num milésimo de segundo voltei a câmera pra janela, tirei a câmera do olho, sorri, fiz um sinal positivo para o menino e ele respondeu sorrindo também.

ele ficou ali posando pra mim por alguns minutos. fiquei tão excitada com a situação que me esqueci que estava fazendo fotos no modo manual é seria bacana experimentar outras configurações, testar outros enquadramentos, me aproximar, me afastar, enfim. eu tinha tempo.mas  não quis demorar muito. estava um pouco sem jeito. muito sem jeito, na verdade. pela primeira estava diante de um estranho, fazendo fotos. agradeci sorrindo e fui embora. só saiu porcaria, mas o rostindo do menino ficou gravado na memória. na minha.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

ainda bem que o destino me levou pra publicidade. minha vocação pro jornalismo é zero. sou uma mulher de ficções. e jornalista ficcional é over.

a doença do jornalismo. é essa obsessão pelo trágico, pelo sangue. a inversão da ordem de importância das coisas, como se as más notícias fossem sempre as mais relevantes. e as boas, pudessem ocupar os menores espaços porque são supérfluas. coisa boa não vende. isso é triste.

 nada contra quem faz jornalismo sério, de verdade. se é que ele existe. mas pense só numa pessoa como eu, nessa onda de preferir ficar com as realidades possíveis, aquelas que são inventadas para o bem. não ia ter espaço. é melhor uma notícias boa de mentirinha do que uma notícia ruim de verdade. porque notícia ruim contamina a gente.

a notícia boa é o menino que pula no rio do alto do barco. é o pescador que volta da pesca e serve a comida para alimentar a família. é o marido que começou a ajudar a esposa com as tarefas domésticas e cuidar dos filhos porque a realidade mudou. se os jornais se dedicassem mais a essas micro realidades o mundo seria muito melhor. todo mundo poderia ver outras realidades possíveis.

terça-feira, 1 de julho de 2014

01/07 - 
primeiro de julho. começo a me despedir de altamira e do pará. sentirei saudades desse clima, desse rio, dessas cores, dessa gente... tenho profunda gratidão por ter tido a oportunidade de viver aqui. de estar aqui nesse tempo e experimentar tudo isso. foi um grande privilégio. a melhor maneira que encontro pra me despedir é fotografando essa cidade.















as canoas na no xingu. ah, eu nunca vou me esquecer delas. coisa viva e coisa morta.