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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O dia amanheceu lindo em Belo Horizonte. Céu azul, brisa de primavera...e eu, embora não tenha amanhecido tão linda, haha, sinto uma vontade imensa de cantar a vida, de sair por aí e aproveitar cada segundinho desse sol e desse piar de passarinhos. Fuxicando aqui e ali, encontrei dois poemas lindos do Drummond. Tão lindos quanto o dia de hoje, acho! Então, é só viver esse tempo e respirar esse vento, nada mais.


“...ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternura e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela.
Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.


A montanha pulverizada

Chego à sacada e vejo a minha serra,
a serra de meu pai e meu avô,
de todos os Andrades que passaram
e passarão, a serra que não passa. 


Era coisa dos índios e a tomamos
para enfeitar e presidir a vida
neste vale soturno onde a riqueza
maior é a sua vista a contemplá-la. 


De longe nos revela o perfil grave.
A cada volta de caminho aponta
uma forma de ser, em ferro, eterna,
e sopra eternidade na fluência. 


Esta manhã acordo e
não a encontro.
Britada em bilhões de lascas
deslizando em correia transportadora
entupindo 150 vagões
no trem-monstro de 5 locomotivas
- trem maior do mundo, tomem nota -
foge minha serra, vai
deixando no meu corpo a paisagem
mísero pó de ferro, e este não passa.

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